Sarah

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A camiseta estampa, com orgulho, a faculdade de Medicina cursada por Sarah Rocha Margittay na Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), no Distrito Federal (DF). O caminho até ali não foi nada fácil: da infância vivida nas cidades satélites do DF e no Tocantins, recorda bem a alegria do dia em que a família recebia cesta básica do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social): “Quando chegava a cesta básica, era muito bom. Eu sabia que a gente ia comer direitinho. Não tinha que dormir pensando no que a gente ia comer no outro dia”. 

Sarah cursou tanto o ensino fundamental quanto o médio em escolas públicas. Era uma aluna de destaque, especialmente em Matemática – chegou a ganhar premiações na área. Ainda assim, tinha dúvidas sobre o futuro: sabia que não poderia participar do “tourvest”, quando candidatos viajam Brasil afora para realizar diversos vestibulares em diferentes estados; então, restavam-lhe poucas alternativas. “Os vestibulandos viajam o Brasil inteiro para tentar vagas em outros estados. Só que eu não tinha dinheiro nem para pagar os vestibulares daqui [no DF], quanto mais gastar dinheiro com passagem para prestar vestibular de outras instituições. Então o único vestibular que eu prestei foi o ENEM”. Com o seu Número de Identificação Social (NIS), vinculado ao Cadastro Único, Sarah recebeu isenção nas taxas do exame nacional. “Eu só consegui prestar o ENEM por causa do Cadastro Único. Com a nota do ENEM, apliquei no SISU e, entre as opções que passei, escolhi a ESCS”.

Hoje, ela concilia as aulas de Medicina, com um estágio na Secretaria de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único (SAGICAD). Seu objetivo ali é integrar as áreas da Saúde e da Assistência Social. “O Cadastro Único fala sobre os determinantes sociais de saúde. Tem um impacto direto na população. Eu acho muito importante conseguir olhar para essa ferramenta não só pelo viés da assistência social, mas também pelo viés da saúde, da educação e tantos outros vieses que podem ser usados na interpretação do Cadastro Único”.

Filha de faxineira, Sarah viu sua vida e a da família mudar a partir do acesso às políticas sociais brasileiras. A mãe recebe ainda hoje o Bolsa Família; um de seus irmãos, portador de esquizofrenia, recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Por isso, ela diz que a rede protetiva das políticas sociais “permite sonhar”: “Eu, como uma pessoa que fui beneficiária – e minha família é beneficiária – dos programas sociais do Cadastro Único, entendo que aquilo impacta muito na vida da população. É um impacto que muda a jornada das pessoas, muda o caminho que elas vão seguir. Quando você está passando por uma vulnerabilidade, é como se você olhasse só para aquilo. A Assistência Social entra nisso: você começa a ver que tem outras possibilidades, além da situação em que você está inserido. Observando essas oportunidades, você começa a sonhar com mais. Você começa a ver que você pode mais e que você pode ter acesso a uma melhor qualidade de ensino, de educação – a uma vida melhor. Talvez você um dia possa ter acesso a uma casa, a uma viagem que você jamais imaginou fazer… e você só consegue isso porque tem um mínimo de apoio, e o Estado faz isso muito bem por meio das políticas sociais”.