Entre uma pilha e outra de melancias, Maria José Lima Pinheiro aproveita para descansar um pouco, depois de um dia inteiro pesando e carregando as frutas em carrinhos de mão e em sacos. Ao todo, foram 450 melancias colhidas. Considerando que cada uma tem, em média, dez quilos, foram 4,5 toneladas que ela e o marido, Raimundo Francimar Mendes, movimentaram em sua plantação – e isso tudo em um único dia.
Apesar do cansaço, ela sorri, satisfeita, pois sabe o destino que as frutas terão: logo, todas as escolas da região as receberão, em dia de festa. Ela recorda a última vez que elas foram distribuídas: “Foi uma festa só. As crianças começaram a gritar que tinha chegado melancia. Além de a gente colocar um produto de qualidade, saudável, orgânico, a gente fica feliz sabendo que as crianças vão ter uma alimentação, uma fruta na escola para se alimentar. É gratificante. É árduo, é sofrido, mas é gratificante no final”.
Maria José, agricultora familiar, participa do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que garante alimentação de qualidade para todas as crianças de escolas públicas Brasil afora. O PNAE, enquanto programa governamental de compra pública de alimentos produzidos por agricultores familiares, assim como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), são iniciativas que contribuem com a promoção da Segurança Alimentar e Nutricional no país.
Ela vive na Comunidade Quilombola Mamuna, no Maranhão, e é vizinha do Centro Espacial de Alcântara – o que sempre gerou conflitos e realocações. Muitos de seus vizinhos foram expulsos de suas terras, levados a outros pontos onde a terra não é tão boa. Ali, em Mamuna, “de tudo a gente planta, de tudo a terra nos dá”, conta Maria José. “A terra da nossa comunidade é uma terra produtiva”. Por isso, ela comemora a titulação do Território Quilombola de Alcântara, que ocorreu em 2024, após longa luta da comunidade.
Mais que uma terra produtiva, o quilombo é um lugar de memória e pertencimento. Maria José é nascida e criada na comunidade, assim como seus filhos. Antes dela, o pai e o avô já viviam na região. “Se alguém cai doente, todo mundo se junta para ajudar aquela família. Se é dinheiro, se é alimento…”. A herança negra é ainda hoje preservada por meio de conhecimentos ancestrais, como, por exemplo, o uso de plantas medicinais: “A gente tem toda essa riqueza na nossa comunidade. A gente era isolado, mas tinha tudo que precisava”.
Além da melancia, Maria José e família plantam abóbora, couve, maxixe, pepino, alface, cheiro verde, cebolinha, pimentas, vinagreira, beterraba, tomate, cenoura. Tudo orgânico – ela não abre mão da saúde, sua e de todos que vão comer os frutos de sua terra: “Hoje, é o que causa tantas doenças nas pessoas, esse agrotóxico que vão usando para matar mato, para avançar ali, para ter menos trabalho. E a qualidade está ficando para trás. O importante, para nós, é a qualidade. Pode até ser pouco, pode até ser um fruto pequeno, mas é bom. É saudável. Pode comer sem medo”.